A Via Crucis dos pacientes oncológicos do SUS capixaba
Pacientes que dependem do S.U.S para tratamentos de oncologia sofrem no Estado.
Fome, sol e chuva, por um dia inteiro, antes e depois de serem submetidos a exames e procedimentos médicos invasivos e fragilizantes. Essa é a rotina de quem precisa do Sistema Único de Saúde (SUS) capixaba para o tratamento contra o câncer, e mora fora da Grande Vitória. Os transportes cedidos pelo Estado, muitos em estado precário, que até quebram durante o trajeto, costumam sair por volta da meia-noite dos municípios do interior do Espírito Santo, Bahia ou Minas Gerais.
Após aram a noite dentro das vans e ônibus, costumam chegar na região metropolitana ao amanhecer, sendo então deixados em seus respectivos hospitais, de onde só sairão, na maioria das vezes, no final da tarde, retornando ao município em horário avançado da noite, totalizando quase 24 horas de via crucis.
Durante essas quase doze horas no hospital, muitos não possuem dinheiro para comer, muitas vezes se alimentando apenas de um bem simples café da manhã, nos hospitais que o oferecem. Um pão com manteiga, café e leite. E a água do bebedouro.
A dona de casa Mônica Cristina do Espírito Santo Teixeira Covas, moradora de Pinheiros, extremo norte do Estado, conta que desde novembro a por esse martírio, em seu tratamento de câncer no útero. Acompanhada apenas da cunhada, também de Pinheiros, não tem parentes nem amigos onde possa ficar na capital capixaba.
Nessa sexta-feira (4), mais um dia nessa difícil rotina, ela já havia feito seus exames pela manhã, mas ainda não sabia que horas chegaria em casa. “Depois ficamos aqui abandonados que nem cachorros. Devia haver salas pro povo pelo menos descansar. Terça-feira eu tenho exame às 15h30, mas vou ter de sair de novo pela manhã. Ficamos com o telefone do motorista e aguardando. ‘Tô chegando, tô chegando, mas às vezes só chega pra buscar a gente lá pelas cinco da tarde”, relata.
Mesmo aos que contam com parentes na cidade, o sistema de transporte impõe muito sofrimento. Matilde Jacob, aposentada de Águia Branca, a dias por mês na capital, devido aos tratamentos diversos que faz no Hospital das Clinicas, anexo ao Santa Rita, endereço hospitalar costumeiro de Mônica.
Matilde dorme na casa de familiares, mas as horas em que aguarda o transporte para voltar pra Águia Branca, no pátio do hospital, são longas e sofridas. As dores no corpo, nos joelhos principalmente, dificultam a subida das escadas, onde há um local com abrigo para chuva e sol. “Tinha que ter um lugar mais apropriado. É muita lama, molha as pernas, carro a e joga água na gente”, reclama.
Fonte: Século Diário.